Chimarrão – História e Tradição

O chimarrão faz parte da tradição do povo gaúcho. De origem indígena esse costume atravessa gerações. A cuia e a bomba são artefatos desse patrimônio cultural, classificadas por nós como Joias Gaúchas.

A cultura gaúcha é muito rica e cheia de referências de outros povos — carrega desde costumes alemães, italianos, portugueses e espanhóis até influências dos hermanos argentinos e uruguaios. A pilcha, o churrasco, as danças, a cultura. O povo gaúcho é único por sua vasta influência e construção cultural. E nessa herança estão certas coisas que já viraram símbolos do Rio Grande do Sul, e um deles é o chimarrão. Mas você sabe como surgiu essa bebida típica?


História do chimarrão

Com a intenção de fazer do Paraguai a colônia mais próspera da Espanha, o General Domingo Martínez de Irala, Governador do Rio da Prata, não media esforços para dominar o maior número de terras possível, e foi em uma de suas expedições ao leste, em 1554, que Irala pisa nas terras da Província Del Guairá (atual Estado do Paraná/Brasil). Ao chegar neste local, depara-se com uma populosa tribo guarani que o recebe com alegria e hospitalidade. Não bastasse tamanha surpresa com a dócil recepção destes índios, ficaram ainda admirados com um hábito em especial. Tratava-se da utilização de uma bebida feita com folhas fragmentadas, depositadas em um porongo e sugadas por um canudo de taquara, que recebia um “paciencioso trançado de fibras” , o qual impedia a ingestão de partículas da folha. Os índios, quando questionados sobre a origem de tal bebida, afirmavam que a caá-i (água da erva) era exclusiva para o uso dos pajés, que posteriormente a estenderam para o restante da tribo. Os índios ao ingerirem a bebida sentiam-se mais estimulados, com os corpos e espíritos fortalecidos. No Guairá as folhas de caá (erva mate) eram colhidas facilmente, devido à abundância de árvores no local.

Entusiasmados com os efeitos da bebida, os soldados do General Irala quiseram prová-la. Caindo no gosto destes homens - provavelmente os primeiros estrangeiros a experimentá-la - quando retornam a Assunção fizeram questão de difundi-la das mais diversas formas. Com essa difusão, se inicia, talvez, uma grande tradição cultural, com o chimarrão sendo a sua manifestação por meio de criações, apropriações e transmissões de um bem simbólico no tempo e no espaço.

Chimarrão (Cimarrón) foi o nome que a infusão recebeu dos colonizadores do Rio da Prata e que depois se difundiu para os demais territórios. A palavra tem origem atribuída ao vocabulário espanhol e português.

 


A Cultura do Chimarrão

Como o consumo do chimarrão é mais forte no Brasil no Rio Grande do Sul, a bebida acabou se tornando um símbolo da cultura e da identidade gaúcha. Sua importância é tanta que acabou ganhando até seu dia próprio de celebração. No dia 24 de abril é celebrado o Dia Estadual do Chimarrão. O chimarrão pode ser inserido nas mais diversas práticas do cotidiano como substituto para o café pela manhã ou companheiro em uma ida ao parque, academia ou até mesmo pelo simples prazer de se tomar chimarrão ao final da tarde, mas a sua ingestão está tão associada à vida dessa determinada população que também é associada a momentos de convívio em sociedade, seja em uma reunião informal ou até mesmo após um farto churrasco. Essa confraternização é conhecia como “Roda de Chimarrão”. Há também quem aprecie tomar o seu chimarrão sozinho, ou como se diz "solito". Por ser considerado também um momento de introspecção e reflexão, o chimarrão é visto como uma espécie de "terapia".

Não há horário, temperatura ou estação ideal para consumir o chimarrão. Seja inverno ou verão a bebida, com infusão da erva mate em temperatura de 60° até 70°C, é consumida com prazer! É muito comum observar nas praias gaúchas famílias apeciando seu mate - alguns dizem que causa um efeito refrescante. Assim como no frio do inverno o chimarrão é  perfeito para ser consumido em frente à uma lareira ou um fogão à lenha.


A importância do chimarrão para o gaúcho

Por fazer parte da identidade de toda essa região do país, o chimarrão se tornou um símbolo de orgulho e reconhecimento que atrai diversos turistas e curiosos para tomarem chimarrão. Assim como é comum comer queijo em Minas Gerais e acarajé quando se visita Salvador, a importância gastronômica dessa bebida é notável pela atenção gerada. A importância dessa tradição ao povo gaúcho é tão grande, que as cuias e bombas são classificadas como JOIAS e produzidas com adornos em prata e ouro.

Cuia e Bomba: joias gaúchas

CUIA - as cuias para o chimarrão podem ser feitas de cerâmica, vidro, madeira e outros materiais. Mas tradicionalmente e preferencialmente ela é feita de PORONGO. O porongo é um fruto não comestível de tamanho grande e é composto por uma casca grossa, lenhosa e com sementes em seu interior. Por ter origem natural, o porongo pode ter diferentes formatos e tamanhos, possibilitando a variedade de design de cuias. Além disso, a cuia de porongo permite o gosto mais original do chimarrão, só que requer alguns cuidados especiais quanto à sua limpeza. Isso é importante para evitar o mofo na cuia, por isso é indicada a limpeza da cuia após o seu consumo.

BOMBA - primitivamente, os índios guaranis criaram a bomba de taquara/cana, por eles chamada de tacuapi: vocábulo guarani, tacuá (cana oca), api (alisada). A bomba era retirada de um trecho de taquara entre dois nós. Junto ao nó inferior eram feitos pequenos orifícios laterais e brotos eram enrolados ou tramados por cima dos furos, formando assim um coador. No outro lado ficava a ponteira por onde era sorvida a infusão. A criação do tacuapí permitiu que somente o líquido fosse sorvido, sem que houvesse a preocupação de separá-lo das folhas. Depois da bomba primitiva de taquara surgiu a bomba metálica. Isso possibilitou uma evolução formal, de durabilidade, de higiene e de ergonomia. Podemos dizer, por exemplo, que somente com o advento do metal é que realmente foi possível propor um novo design da ponteira.

 

O chimarrão é uma grande instituição material e simbólica do sul do continente que nada fala e tudo diz. É esse milagre que não se agradece e se toma em parceria. É um lugar de memória que cria comunhão e identidade, sempre em evolução: com novas formas e adornos de cuias e bombas.